domingo, 26 de agosto de 2012

Depoimento de Paulo Silvestrini. "Sou Eliana Silva"

Hoje (25/08) reergueu-se Eliana Silva. Em uma batalha muito forte: homens, mulheres, crianças, jovens e idosos, resistiram às investidas de um polícia violenta, formando com o próprio corpo um cordão humano para conter o avanço das tropas. Policiais agindo com total desrespeito aos direitos humanos, visando a destruição do acampamento, ameaçaram a integridade física de quem estava lá, chegando a agredir com empurrões, prisões sem fundamento, e verbalmente com deboches e ameaças.
 Eu nunca havia participado de uma ocupação e até certo momento não estava muito certo do que estava fazendo. Estava amedrontado, temendo por minha vida e pensando se aquilo realmente valia a pena. Foi quando enquanto segurava uma faixa, percebi que ao meu lado uma criança de mais ou menos 8 anos, veio por conta própria segurá-la. A frente dos policiais, olhava para eles fixamente. Um olhar firme e determinado. Um olhar de quem não tinha mais nada a perder, de quem foi abandonado, assim como o terreno em que pisava, por um governo corrupto, por um sociedade miserável. Fisicamente, tudo o que ele tinha contra aquele batalhão com cassetetes, armas de fogo e escudo, era o seu pequeno e frágil corpo. Mas o que ele tinha por dentro o fazia maior que qualquer outro homem fardado naquele local. Chorei naquele momento e pensei: esse menino não tem para onde ir, mesmo se eu me machucar aqui, daqui a algumas horas voltarei para o conforto da casa onde moro, e ele? Se não fosse retirado a força no mesmo dia, teria de continuar no acampamento debaixo de uma lona, temendo a todo instante um ataque policial.
 Depois daquele instante integrei o cordão humano chegando a ficar frente a frente com a tropa de choque. Não havia mais em mim traços daquele ser egoísta de antes, estava determinado a morrer, pois, do que para mim valeria continuar levando uma vida ignorante, negando a realidade, vivendo uma falsa felicidade.
 Hoje (25/08) também é o dia do meu aniversário. Meu maior presente recebi naquele terreno acidentado. Estar ao lado das pessoas da Ocupação Eliana Silva, ser uma delas. Tenho orgulho de dizer: Sou Eliana Silva!

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